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Parque Rodoviário: 3 anos após tragédia, nenhuma casa foi construída pela Prefeitura

O Portal O Dia voltou ao local da tragédia e conversou com moradores, que estão morando de aluguel solidário

25/10/2022 13:20

A noite de 4 de abril de 2019 ainda está na memória das mais de 50 famílias que perderam tudo na tragédia do Parque Rodoviário. Não só por causa do drama vivido por essas pessoas durante o momento da enxurrada. Mas também, devido a entrega das casas estar se arrastando há mais de três anos, aumentando ainda mais o sofrimento de quem espera por ter um teto próprio para viver. Nesta segunda-feira (24), o Portal O Dia voltou ao local da tragédia para acompanhar de perto a angústia de quem aguarda um lar. 


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(Fotos: Assis Fernandes/ODIA)

É o caso da Valdirene Pereira, mais conhecida como Dona Val. Bem comunicativa e simpática, esses atributos logo se apagam quando se começa a falar da tragédia. A dona de casa perdeu o companheiro devido a enxurrada - para fugir das águas, ele pulou um muro e logo depois a estrutura caiu por sobre ele, dois meses depois veio a óbito no Hospital – e a casa onde os dois moravam ela também perdeu. 

E morar numa casa que não é própria prolonga o sofrimento vivido por quem viveu o dia da enxurrada. “É ruim demais, vivo numa casa muito quente, de apenas dois cômodos e sem privacidade nenhuma. Como não tenho onde morar e nem parentes aqui em Teresina, tenho que ficar aqui. Foi a única casa que consegui alugar através do aluguel solidário que a Prefeitura paga, que é de R$ 300 reais. Mas é melhor do que estar na rua”, pondera. 

Valdirene Pereira sobrevive de aluguel solidário e cestas básicas dadas pela prefeitura (Foto: Assis Fernandes/ODIA)

A dona de casa não trabalha. Possui problemas na coluna que a impedem de fazer trabalhos domésticos mais pesados, como lavar roupas e fazer faxinas. Além do aluguel solidário, Dona Val recebe uma cesta básica do CRAS da região. E só. Ela dá graças a Deus pelo aluguel pago pela prefeitura, mas reclama que o valor está defasado. “Sempre foi esse valor, está com três anos, nunca aumentou. Tudo ficou mais caro de lá para cá, só o aluguel que não aumentou. Ainda bem que a dona da casa nunca reclamou. Ela é evangélica e foi a única pessoa que me ajudou e manteve a cobrança no mesmo valor. Hoje em dia, um aluguel é de no mínimo R$ 500”


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A residência que Dona Val aluga está bem à frente do terreno que a Prefeitura de Teresina comprou para a construção das 63 casas para as famílias atingidas pela enxurrada no Parque Rodoviário. E ao abrir a porta de casa, o que ela vê é a lentidão nos trabalhos. “A obra está muito devagar, apesar de ter muito trabalhador, está devagar demais. E entregar em abril do ano que vem? Acho que não vão entregar não! ” A descrença da dona de casa se refere ao cronograma de execução das obras, divulgado pela Prefeitura, que prevê a entrega das casas até abril de 2023.

Dona Val não acredita que as casas serão entregues em 2023 (Foto: Assis Fernandes/ODIA)

Veja o vídeo:

Abrigos improvisados 

Se a demora na entrega das casas já é ruim para quem está em uma casa alugada, imagine quem ainda mora em abrigos improvisados. É o caso da Dona Helena, aposentada, e que está vivendo quase que “de favor” em um galpão no fundo da Igreja Católica do bairro. 

Dona Helena mora de favor no galpão de uma igreja do bairro (Foto: Assis Fernandes/ODIA)

Ela recebe o aluguel solidário, mas é insuficiente para alugar uma casa que caiba ela e outras sete pessoas da família – uma filha e seis netos. Então, ela usa os R$ 300 para ajudar no pagamento das contas de água e energia da Igreja, em troca da estadia. 

É com uma cesta básica, dada pelo CRAS, meio salário mínimo de aposentadoria e doações de paroquianos, que ela sobrevive e sustenta a família. “Sou diabética, tenho pressão alta e sinto muitas dores nos ossos. Minha saúde foi muito afetada por tudo isso. Tive que voltar para a Igreja, e aqui pago a água e a luz. Até hoje o que eu tenho, são só as coisas que eu ganhei no tempo da tragédia. Roupas, um fogão, uma geladeira e os colchões. É só o que tenho”. 

“As crianças dormem no chão, porque não tem colchões suficientes para todos. Enfim, tudo o que nós temos está nessa sala na Igreja. Tudo o que eu queria era voltar para uma casa própria”, finalizou a aposentada

Dona Helena conta que o seu sonho é voltar a ter uma casa própria (Foto: Assis Fernandes/ODIA)

O que diz a prefeitura sobre a lentidão e o aluguel solidário

De acordo com a Prefeitura de Teresina, estão em execução os serviços de contenção de aterro em gabião, construção do anfiteatro, terraplanagem e estruturação para receber o pavimento asfáltico. Além disso, a SAAD Sul segue aguardando a conclusão do processo de desapropriação de algumas casas. Só após a conclusão da terraplanagem e pavimentação no entorno do canal, serão liberadas as frentes de serviço das 63 casas. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi), que fez o cadastro das famílias que recebem o Aluguel Solidário, esclarece que o valor de R$ 300, oferecidos no Programa Cidade Solidária a família que acolhe, é definido pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), art. 22, da Lei n. 8742, de 07 de dezembro de 1993, com alterações no art. 8º da Lei Nº 4.916/2016 no ano de 2019. 

O Programa Cidade Solidária faz parte dos Benefícios Eventuais, que integra a política de Assistência Social, de caráter suplementar e provisório, prestado aos cidadãos, inclusive, em situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. Assim, a Semcaspi reforça que qualquer nova alteração no programa, inclusive de valores, deve ser feita por meio de projeto de lei aprovado na Câmara Municipal de Teresina e sancionada pela Prefeitura Municipal de Teresina. 

Já a Saad Sul disse que o cronograma de execução das obras está previsto para ser entregue até abril de 2023. Atualmente há uma primeira construtora no local realizando a terraplanagem da área e dando início ao canal do Parque Rodoviário para iniciar as obras de urbanização no local. Após a conclusão, a segunda construtora licitada deverá iniciar a construção das unidades habitacionais. 

Famílias precisam de doações 

Dona Val e Dona Helena concederam entrevista ao Portal O Dia para relatar a demora na construção das casas e relataram as dificuldades enfrentadas por suas respectivas famílias. Ambas precisam de doações, como alimentos, roupas, produtos de higiene pessoal e também ajudas financeiras. 

Se você quer e pode, contribua! Mais informações nos contatos pessoais: Dona Valdirene: (86) 9.9581-5911 ou pessoalmente, na Rua Um, Parque Rodoviário, próximo à Quadra do bairro; Dona Helena: (86) 9.8852-1431 (contato da filha Lidiane) ou pessoalmente, na Rua Antônio José Marques ou Rua 2, no Parque Rodoviário. Atrás da Igreja de Nossa Senhora Maria Auxiliadora

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