Com a crescente falta de transporte público em Teresina, muitas pessoas têm apostado nas bicicletas como principal meio de se locomover na capital. Levando em consideração o alto preço da gasolina, aliado à escassez das frotas de ônibus, a 'bike' acabou se tornando um veículo muito mais econômico e sustentável.
A bike acabou se tornando um veículo muito mais econômico e sustentável. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Desde o início da pandemia do coronavírus, muitos desafios foram impostos. Ir e voltar do trabalho, por exemplo, passou a ser um problema a partir do momento em que o transporte público de Teresina entrou em uma situação caótica. É o que conta a educadora física Ana Carolina França, de 35 anos. Para ela, a bicicleta é muito mais que um objeto de lazer, mas um veículo que a leva para todos os lugares
“Sempre andei de bike por lazer e como atividade física, porém de uns tempos para cá, a bicicleta virou o meu principal meio de transporte. Nos dias de hoje, nós estamos tendo muita dificuldade em relação ao transporte, principalmente os ônibus”, comenta a professora.
Para Carol França, a bicicleta é muito mais que um objeto de lazer, mas um veículo que a leva para todos os lugares. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Carol França mora no bairro Bom Jesus, na zona Norte de Teresina, mas todos os dias se desloca em sua bicicleta até o trabalho, que fica localizado na zona Leste. Ela afirma que há algum tempo ia para o expediente de ônibus, mas que isso ficou inviável, uma vez que até mesmo antes da pandemia, o transporte público já não era tão eficiente.
“Antes de todo esse problema com o transporte público, eu utilizava o ônibus principalmente para ir e voltar do trabalho. Mas, mesmo antes da pandemia, sempre tivemos problemas com a questão dos ônibus. Eles estavam sempre lotados, às vezes não paravam para o passageiro e por isso eu sempre chegava atrasada no trabalho”, explica.
Educadora física Ana Carolina França. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Envolvida em toda essa situação, a educadora física decidiu, assim que ganhou uma bicicleta, mudar de vida. “Quando ganhei a bicicleta, decidi que aquilo de sempre chegar atrasada não dava mais para mim, então comecei a ir e bike e agora não largo mais”, ressalta. Hoje, a ciclista não tem ideia de quantos quilômetros percorre por dia, visto que ela pedala para todos os lugares possíveis.
“Hoje, a vida do ciclista é um perigo”, conta educadora física
Ana Carolina França esclarece que dentre as várias dificuldades de ser ciclista em Teresina, a falta de sinalização e ciclovias são um dos principais desafios a serem superados pelas pessoas que pedalam. Apesar de existirem faixas destinadas à ciclistas em alguns pontos específicos de Teresina, a quantidade não atende a toda a capital. Dessa forma, muitas pessoas acabam tendo que pedalar entre os demais veículos, como carros, motos e caminhões, correndo risco de vida.
“A questão das ciclovias é um desafio. Eu sempre comento que hoje em dia é um perigo a vida do ciclista, porque é muito desafiador. Eu estava até falando que no dia do ciclista, 19 de agosto, fizeram algumas reportagens falando de quantos quilômetros de ciclovias já estavam prontas em Teresina. Elas podem até existir, mas eficiência e eficácia, não tem”, pontua.
Muitas pessoas acabam tendo que pedalar entre os demais veículos, como carros, motos e caminhões, correndo risco de vida. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
A professora destaca ainda que além de existirem diversas ruas e avenidas sem ciclovias, muitas faixas destinadas aos ciclistas estão esburacadas, o que pode causar danos tanto ao veículo quanto a quem está pedalando.
“Agora mesmo, estamos em uma ciclovia que foi feita a demarcação recentemente aqui no Mocambinho, mas eles fizeram somente a marcação do local. Em outros lugares, as faixas estão cheias de buracos. É muito mais complicado para o ciclista desviar de uma pedrinha que seja, do que um carro desviar de um buraco, por exemplo”, acrescenta.
Segundo Lívia Macedo, arquiteta do Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans), existe um plano cicloviário que pretende ampliar os quilômetros de ciclovias na em Teresina. Ela afirma que até o final do ano, serão entregues cerca de 22 km de faixas destinadas ao ciclistas.
Ciclofaixas na Avenida Marechal Castelo Branco. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“Estamos desenvolvendo cerca de 22km que faz essa sinalização na cidade e que até o final do ano será entregue. Além disso, estamos lançando em breve a licitação da rede estrutural, que irá ampliar a rede de ciclovia na cidade. Nessa rede, nós iremos contar com 164 km de ciclovias. Hoje, temos 62 km de ciclovias e futuramente teremos 262 km”, explica a arquiteta.
Ainda de acordo com Carol França, os condutores dos demais meios de transporte, não respeitam os ciclistas. Ela afirma que além dos motoristas não darem o espaço adequado entre o seu veículo e a bicicleta, que seria de um metro e meio de distância, eles não dão passagem e nem prioridade para o meio de transporte menor e mais suscetível a acidentes.
“Os motoristas não respeitam, não dão passagem. A prioridade deveria ser do ciclista, mas não é o que acontece. Ontem mesmo, se eu não estivesse atenta ao trânsito, o condutor de um outro veículo teria me acidentado”, informa Carol França.
Dia Mundial Sem Carro ressalta a importância do transporte sustentável
O Dia Mundial Sem Carro é celebrado nesta quarta-feira (22), e reforça a utilização de meios de transporte que possam ser sustentáveis, como bicicletas, patinetes e caminhadas. De acordo com informações disponibilizadas pela Agência Brasil, o uso de bicicletas teve um aumento de 3% em todo o mundo, entre os anos de 2019 e 2020.
As vendas de bicicletas também aumentaram desde o início da pandemia. Dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, revelam que o ano de 2020 trouxe bons resultados para o mercado do veículo, com uma média de 50% de aumento nas vendas em comparação ao ano de 2019.
As vendas de bicicletas aumentaram 50% desde o início da pandemia. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Atualmente, o uso de bicicletas vai muito além de lazer e transporte, mas se tornou também uma forma de ativismo. Kaio Felipe, artista teresinense, se autodenomina ‘cicloativista’ e afirma que roda toda a capital em sua bicicleta. O artista chega a pedalar mais de 40 quilômetros por dia e incentiva seus amigos e seguidores nas redes sociais a adquirir este hábito que, em sua opinião, faz muito bem para saúde.
Além dos ‘cicloativistas’, existem pessoas que andaram toda a sua vida em bicicletas e que não trocam o meio de transporte por nenhum outro. Como é o caso de Francisco das Chagas, um senhor de 70 anos que, desde que começou a sua vida adulta, utiliza a bike como principal meio de se locomover. Trabalhando como pedreiro desde os 13 anos de idade, seu ‘Chagas’, como é conhecido, vai e volta do trabalho em sua bicicleta, além de buscar os netos e resolver outras questões, sempre utilizando a sua bike.
Para ele, assim como para diversas outras pessoas, as bicicletas deveriam ser mais valorizadas e os ciclistas, mais respeitados.