“O Brasil tem um dos piores sistemas prisionais do mundo e o Piauí não fica atrás. Precisamos dar passos para mudar essa fotografia que o mundo tem de nós”. Foi com essa afirmação que a governadora do Piauí, Regina Sous, anunciou a criação de um grupo de trabalho que tem como objetivo avaliar as 17 unidades prisionais do Piauí e humanizar o tratamento dado às pessoas privadas de liberdade sob tutela do Estado.
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Foto: Divulgação/Sejus
O anúncio ocorreu durante a implantação da Política Pública de Justiça Restaurativa na Penitenciária Feminina de Teresina, nesta quarta-feira (29). Além da ação, outros trabalhos voltados para a ressocialização e para o trabalho de humanização dos presídios deverão ser realizados durante o mês de julho. Segundo a governadora, nos próximos dias, um plano de ação deve ser elaborado para o grupo de trabalho, cujas atividades devem iniciar pela Penitenciária Regional Irmão Guido, localizada na zona Rural de Teresina.
“Quero instalar um grupo de trabalho de humanização dos presídios começando na [Penitenciária] Irmão Guido. O papel do estado é custodiar. O Estado é responsável por entregar as pessoas melhores, se entregar as pessoas e elas voltarem para o crime e saírem piores, o Estado fracassou. Para isso, elas precisam ter oportunidades lá fora, precisam estudar, precisam aprender uma profissão”, afirmou a governadora.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Ativista dos Direitos Humanos, Regina Sousa, no mandato de senadora da República, presidiu por dois anos, a Comissão de Direitos Humanos do Senado. Para a governadora, as ações são o pontapé para um novo olhar sobre as pessoas que estão custodiadas pelo Estado.
“Esse grupo de trabalho vai poder ver tudo, inclusive onde o Estado está falhando. Eu espero que a gente mude a visão que temos dos presídios. Não precisa ser um olhar ruim, de terror, de raiva. As pessoas [encarceradas] estão aqui porque cometeram algum crime e a pena é a privação de liberdade. Elas já estão presas, o resto é exagero, é ilegal e chega a ser tortura. Nós temos um dos melhores índices de educação de presos, e isso nos orgulha. Mas não é porque se faz uma coisa boa que vamos fazer as ruins”, defendeu a governadora Regina Sousa.
Política Pública de Justiça Restaurativa
Regina Sousa destacou ainda o papel do projeto da Política Pública de Justiça Restaurativa no plano de humanização dos presídios. O programa Justiça Restaurativa para a Liberdade foi implantado inicialmente na Penitenciária Feminina de Teresina. A ação é desenvolvida pelo Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI), por meio do Núcleo de Justiça Restaurativa, e busca reparar os danos do ato infracional e trazer ao ofensor a responsabilização pelos seus atos.
“A justiça restaurativa vai estar dentro dos presídios junto às presidiárias, junto aos funcionários para virar um ambiente adequado como deve ser em um presídio. Elas estão presas, já estão pagando a pena e têm o direito de serem bem tratadas. Será observada a pessoa como um todo, como saúde, o tratamento de saúde; como está a educação, algumas estudam, então irão olhar a pessoa como um todo”, conta.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
A parceria entre a Secretaria de Justiça junto com o Tribunal de Justiça para a implantação da justiça restaurativa é um novo passo para a ressocialização dos detentos. Segundo o secretário de Justiça, Carlos Edilson, a intenção é levar o programa para todo o sistema penitenciário piauiense. “Nós iremos receber, graças a essa parceria com o Tribunal de Justiça, o público da justiça restaurativa que tem por finalidade nos auxiliar nesses processos de ressocialização. Aqui a gente está trazendo mais uma ferramenta que contribui com a ressocialização que é a justiça restaurativa para dentro das unidades prisionais. Hoje demos o pontapé dentro da penitenciária feminina. Faz parte da articulação junto com o poder judiciário levar para todo o sistema prisional”, explica o secretário.
O juiz Georges Cobiniano, coordenador do Núcleo de Justiça Restaurativa do TJ, explica que a participação dos apenados será de forma voluntária e a remissão de pena será por participação nas atividades das práticas restaurativas. Segundo ele, são práticas circulares em que os participantes, depois da atividade, vão escrever, relatar a experiência no projeto e mostrar o aprendizado que tiveram. Depois disso o aproveitamento é informado ao juiz de execução penal que decide pela concessão da remissão de pena, que pode chegar até 48 dias de redução.
“A Lei de Execução Penal prevê que práticas educativas são fundamento para remissão de penas e a justiça restaurativa tem justamente essa natureza, de conscientização dos apenados para dar chance de descobrir como seus atos provocaram prejuízos e danos a outras pessoas e à sociedade, e como podem reparar esses atos. Uma busca pela responsabilização”, explica o magistrado.
Participaram do ato o presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, desembargador José Ribamar Oliveira, e outros membros do TJ; o secretário de Estado da Justiça, Carlos Edilson Sousa; representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Secção Piauí, Ministério Público e 16 detentas da unidade prisional.