O falso profeta que incentivou o ritual de jejum que resultou na morte do pequeno Wesley Ferreira de 1 ano e 9 meses em Teresina fazia parte da família paterna do bebê. A informação foi confirmada pela conselheira Socorro Arraes, do Conselho Tutelar de Teresina, que ouviu a mãe do menino e deu detalhes sobre como tudo aconteceu. De acordo com ela, a família paterna de Wesley "cultuava" um membro da família que era tido como uma espécie de "messias" e que havia feito todos os moradores da casa passar mais de 10 dias sem comer, sem beber e sem tomar banho.
O jejum se aplicava a todos os membros da família, inclusive às crianças. Durante a realização do ritual, Wesley acabou não resistindo e desfaleceu nos braços da mãe.
Wesley desfaleceu nos braços da mãe após quase 10 dias sem comer - Foto: Reprodução
Ao Conselho Tutelar, Ângela Valéria Ferreira Ferro, mãe do bebê, disse que a família do pai de Wesley havia proposto o ritual para quebrar uma maldição que haviam jogado neles e que o jejum de mais de 10 dias foi incentivado por este “profeta” que fazia parte da família do pai. O Conselho não soube dizer qual o grau de parentesco dele com a criança.
“Existia um ritual que foram vários dias em que ninguém podia comer, beber nem banhar. Para mais de 10 dias. A mãe disse que nesses dias ela chegou a pedir para a sogra um mingau para dar para o Wesley, mas a avó disse que não, que depois que terminasse o ritual, todo mundo ia comer. Então a mãe ficou carregando a criança no braço até ela desfalecer de fome”, relatou Socorro Arraes.
Após Wesley perder os sentidos, a mãe chamou o pai e pediu para ele levar o bebê para o hospital imediatamente porque ele estava muito debilitado. “Ela entregou a criança para o pai e ele saiu com o menino, o suposto profeta e os avós paternos. Demorou pouco, eles retornaram sem o bebê. Então a mãe perguntou onde ele estava e o pai falou que tinha jogado ele numa caieira [forno usado para calcinar pedras]”, diz a conselheira.
Mãe contou que foi ameaçada pelo pai de Wesley e por “líder religioso”
Questionada pelo Conselho Tutelar sobre por que demorou tanto para contar a verdade sobre a morte de Wesley, Ângela Valéria afirmou que estava sendo coagida e ameaçada pelo pai do menino e pelo falso líder religioso que também era da família e vivia com eles. A história do sequestro, segundo a conselheira Socorro Arraes, foi criada pela família paterna do menino e a mãe teria sido ameaçada para replicá-la e ocultar o que de fato tinha acontecido.
“Ela falou que tinha que repetir a mesma história para todo mundo. Que estava na praça, que uns homens encapuzados chegaram armados e levaram a criança. É a história que foi contada para a polícia e que resultou na abertura do inquérito”, explicou a conselheira tutelar.
Ainda ontem, a polícia esteve no local que foi apontado como sendo onde o bebê foi queimado e recolheu vestígios do que seriam os restos mortais de Wesley para fazer exame de DNA. As oitivas com os suspeitos e as testemunhas devem continuar nos próximos dias.
O pai, a mãe e os avós paternos de Wesley estão presos acusados de terem cometido o crime.