Uma candidata que prestou exame para o cargo de Psicólogo no concurso do Tribunal de Justiça do Piauí, que ocorreu no último final de semana em Teresina, usou as redes sociais para relatar suposta irregularidade ocorrida durante a execução do certame. Ela diz que ao chegar à sua sala de aplicação, as provas já estavam distribuídas sobre as mesas dos candidatos antes mesmo de todos eles terem chegado e antes mesmo do fechamento dos portões do centro de aplicação. Ela fez prova do TJPI na Unidade Escolar Moacir Madeira Campos, no bairro Saci.
Conforme prevê o edital do concurso, as provas só devem ser entregues pelos fiscais aos candidatos após o fechamento das portas dos centros de aplicação e simultaneamente em todos os locais de realização do certame à 08h. Juliana conta que chegou por volta de 7h30min à sala e as provas já não estavam mais lacradas nem guardadas nos envelopes que ficam em poder dos fiscais.
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"Quando eu cheguei para fazer a prova, por volta das 7h30, cada candidato já tinha sua prova sobre suas mesas. Elas estavam viradas antes mesmo do início da aplicação, que era 8h, conforme consta no edital. Na hora eu pensei que fosse alguma instrução da banca, mas depois quando conversei com outras pessoas que também fizeram o concurso, percebi que não foi assim nos outros lugares de prova. Nos outros locais, as provas estavam lacradas e só foram abertas mediante a presença de dois candidatos voluntários que assinaram uma ata confirmando a lisura do processo", explicou Juliana.
Ela acrescentou ainda que os fiscais de sua sala de aplicação permitiram que os candidatos chegassem a prova antes do horário de início do certame para saber se elas estavam conforme previa o edital e para poderem assinar com seus nomes a avaliação. Juliana registrou Boletim de Ocorrência sobre a situação junto ao 7º Distrito Policial de Teresina.
Consta no relato: do BO: "Ao adentrar a sala 03 da referida escola [CEMTI Moacir Madeira Campos] foi logo visualizado que as provas estavam distribuídas nas mesas e que todas não se encontravam em envelopes lacradas, fato este que contraria o edital em seu art. 6.2.7 de nº 01/2022 do TJ-PI. A comunicante, em conversa com alguns outros candidatos do concurso ora citado, veio a tomar conhecimento que em outros postos de aplicação de prova do mesmo concurso, as provas encontravam-se lacradas e que só foram abertas mediante a presença de dois candidatos voluntários e que estes inclusive assinaram ata confirmando a lisura do processo".
De acordo com o artigo 6.2.7 do edital, antes do horário de início das provas, o responsável pela aplicação na unidade deveria requisitar a presença de dois candidatos que, juntamente com dois integrantes da equipe de aplicação das provas, teriam que presenciar a abertura da embalagem de segurança onde estavam condicionados os envelopes lacrados com os cadernos de prova e folhas de resposta. Uma ata do fato deveria ter sido lavrada e assinada pelos presentes, testemunhando que o material se encontrava devidamente lacrado e com seu sigilo preservado.
Além da violação desta regra do edital, No BO, Juliana Sampaio mencionou ainda que os fiscais orientaram que os candidatos fizessem a leitura das instruções da prova e que assinassem os cadernos de questões antes mesmo do horário previsto da prova.
"A gente sai atônita de uma prova dessas, é uma oportunidade para a qual muita gente se dedicou, se preparo. O que eu queria era que tomassem alguma providência sobre isso, porque não teve equidade e feriu o edital", finalizou Juliana.
GPS’s de localização dos malotes para caso de extravio de provas estavam desligados
Além da denúncia de Juliana Sampaio sobre a antecipação da abertura dos envelopes das provas no concurso do TJPI, outro candidato, que prestou o certame no Colégio Professor Milton Aguiar, procurou a polícia para denunciar suposta irregularidade no sistema de segurança dos malotes que guardavam os cadernos de prova e as folhas de resposta. O Portalodia.com teve acesso ao BO no qual consta a informação de que os cadeados que guardavam trancavam os malotes abriram com qualquer uma das digitais usadas para abri-lo e não só com a digital que estava cadastrada para abri-lo.
De acordo com o edital, três sistemas de segurança impediam fraude no concurso: o lacre no número identificador, o GPS que estava dentro dos sacos de provas demonstrando o caminho que eles percorreram até serem abertos, e o cadeado com biometria que registrava quem fechou os malotes de prova no local de origem e também quem iria abri-los no local de destino no centro de aplicação, com abertura por biometria que estava cadastrada somente com a digital da coordenadora do local de provas.
Conforme consta no Boletim de Ocorrência, três candidatos foram aleatoriamente escolhidos pela coordenadora de provas do Colégio Professor Milton Aguiar e foram conduzidos a uma sala reservada junto da então coordenadora para a conferência dos malotes. Lá presentes, eles foram informados sobre o sistema de segurança que guardava as provas e o testaram.
“Neste momento, o noticiante, fiscalizando a integridade do cadeado que guardava os malotes, colocou seu dedo polegar no leitor de biometria e o cadeado acendeu uma luz verde autorizando acesso e se abriu. Diante da surpresa com a adulteração, fez um teste novamente com outros dedos e todos abriram o cadeado de ambos os malotes de prova. Depois desse momento, entregou o cadeado para a testemunha que o acompanhava e ela também abriu o cadeado da mesma forma com suas digitais”, é o que consta no BO.
Segundo o registro de ocorrência, os candidatos constataram que qualquer pessoa conseguiria abrir os malotes independentemente da digital. Também consta no BO que o aparelho GPS que deveria estar dentro do saco com as provas informando a localização dele em tempo real na verdade estava dentro da caixa que guardava os malotes e que ainda se encontrava em sua embalagem de fábrica e desligado e “100% inoperante”.
Os candidatos registraram BO junto à Polícia Civil pedindo que fossem investigadas as supostas irregularidade no armazenamento das provas do concurso do TJPI.
O que diz a banca organizadora
A reportagem do Portalodia.com procurou o Tribunal de Justiça do Piauí comunicando as queixas dos candidatos. O Tribunal informou que quem deve responder pelos atos de execução do certame é a banca organizadora do mesmo. Procurado, o Idecan (Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistência Nacional) disse que assegura a inviolabilidade e a lisura de todo o material de seus concursos.
“Durante a execução do certame do TJ do Piauí no fim de semana passado, as provas estavam íntegras e invioladas. Tudo ocorreu dentro da normalidade, transparência e respeito ao edital”, diz a nota da banca organizadora.