Troncos largos, galhos extensos, raízes fortes e copas frondosas. Quem passa por alguns pontos de Teresina, capital do Piauí, já deve ter notado árvores com essas características. Em geral, elas ficam localizadas nas principais praças e avenidas do centro da cidade, como a Praça da Bandeira e Avenida Frei Serafim, onde teve início a construção de Teresina.
Algumas delas, por serem centenárias, necessitam de cuidados específicos, já que podem apresentar doenças ou até mesmo colocar em risco pessoas e bens, como veículos, uma vez que seus galhos são frágeis. Como ocorreu na última quarta-feira (31), quando uma árvore localizada na Praça da Bandeira, Centro de Teresina, caiu e atingiu pelo menos dois veículos que estavam estacionados na Rua Coelho Rodrigues, próximo ao Shopping da Cidade.
Para saber o perfil das árvores de Teresina, quantas são centenárias, as principais espécies e tantos outros detalhes, está sendo feito um Plano Diretor de Arborização Urbana de Teresina (PDAU), que deve ser entregue até o primeiro semestre de 2023. O levantamento está sendo feito por uma equipe técnica, vinculada à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semam). Com os dados em mãos, será possível ter um diagnóstico arbóreo de Teresina. Claudinei Feitosa, secretário executivo da Semam, explica que o último levantamento dessa modalidade foi realizado no ano 2000 e foi realizado somente na região central da cidade.
“Não temos conhecimento de quantas árvores antigas existem na Capital, mas no inventário existem informações como a estrutura, porte, altura, se é antiga, se tem doenças, praças e outros parâmetros. Vamos tabular essas informações para saber quantas são antigas para ter um panorama e adotar as medidas necessárias”, conta.
(Fotos: Assis Fernandes/ODIA)
Neste trabalho, os técnicos vão investigar os problemas apresentados nas árvores velhas, que precisam ser podadas ou até removidas, bem como a incompatibilidade de árvores com a fiação elétrica, com tamanho de calçada que podem danificar estruturas, paredes e muros. Com base nos dados, a Prefeitura irá definir as ações a serem adotadas a curto, médio e longo prazo.
Por serem antigas, as árvores centenárias exigem cuidados específicos e que vão além da rega diária. Claudinei Feitosa comenta que o município não conta com uma equipe técnica especializada que possa verificar a situação dessas árvores e realizar os cuidados necessários.
“A PMT, vinculada à empresa que presta serviços de limpeza pública e conservação, vai até o local e faz o trabalho de manejo dessa árvore quando são demandados pela própria Prefeitura ou cidadão. Os cuidados com as árvores em logradouros públicos vai além da rega. É necessário uma poda de limpeza e manutenção, removendo galhos secos e mortos para evitar que a queda cause algum dano ou acidente, além de evitar com que ela cresça além do que já cresceu. Porém, esse trabalho é realizado sob demanda”, acrescenta.
Urbanização agride árvores centenárias, diz especialista
A bióloga com propriedade em arborização urbana e monitoramento de áreas verdes, Roselis Machado, pontua que Teresina ainda tem árvores centenárias, inclusive algumas tombadas por lei. A especialista acrescenta, entretanto, que muitas estão sendo danificadas e agredidas devido a ação do homem.
“Muitas, infelizmente, estão sendo agredidas pelos equipamentos urbanos, pois na época que foram plantadas estavam em uma área grande, de fazendas, e, hoje, o centro urbano adentrou no espaço delas, deixando o mínimo possível para elas viverem. Vemos isso nos Oiti que estão no Centro de Teresina, em frente à Prefeitura, e na Rua Paissandú. A calçada está colada no tronco da árvore, ela não pode ser tirada de qualquer forma, precisa ser preservada, mas não estamos dando condições dela continuar viva e saudável”, alerta.
Para Roselis Machado, o ser humano é diretamente responsável pelos danos que essas árvores vêm sofrendo ao longo dos anos, e reforça que ações devem ser adotadas como forma de prevenir que elas caiam ou sejam cortadas.
“Estamos propiciando a queda dessa árvore, inclusive com muitos prejuízos, como cair sobre um pedestre, um veículo, uma edificação. Há muitas formas de ampliar o canteiro dessas árvores, como foi feito no canteiro central da Avenida Frei Serafim. É preciso pensar em uma poda adequada e uma organização do espaço que elas vivem. Caso esse manejo não seja feito de maneira adequada, elas estão só aguardando o tempo ideia de cair e infelizmente elas não vão nos comunicar e os desastres poderão ter grandes consequências”, reforça a bióloga.
Plano Diretor irá nortear sobre plantio de árvores
O Plano Diretor de Arborização Urbana de Teresina foi dividido em cinco produtos, no qual dois deles já foram entregues: o Plano de Trabalho, no qual foram definidas as estratégias sobre como conduzir este trabalho na Capital, e o Inventário, conforme o Termo de Referência, que foi objeto da licitação. Agora, as equipes estão trabalhando no Diagnóstico e Prognóstico.
O PDAU visa trazer um regramento jurídico e técnico para nortear e orientar não somente o setor público, mas a população, de como plantar e conduzir a vegetação de porte arbóreo na cidade.
“Infelizmente por não termos leis específicas ou um regramento jurídico que trate desse tema, hoje temos vários conflitos, de diversas áreas localizadas em logradouros públicos, pois foram plantados de forma indevida pelos moradores, até por desconhecimento, não só nos aspectos biótico dessas árvores, mas da incompatibilidade delas com os espaços que foram plantadas”, disse.
Espécies introduzidas deverão ser removidas; árvores nativas são prioridade
Claudinei Feitosa, secretário executivo da Semam, explica que já é possível identificar quais as espécies de árvores mais comuns em Teresina, e lembra que muitas delas não são plantas nativas, ou seja, típicas da região. Ele reforça que muitas delas causam sérios prejuízos ao meio ambiente, tanto à fauna como à flora, e que, em breve, muitas deverão ser removidas.
“Neste primeiro momento estamos encontrando um misto de plantas nativas com espécies introduzidas. Temos muitas árvores que foram plantadas em momentos e anos anteriores que são marcantes, como o Fícus benjamina, a amendoeira (castanheira) e o Nim indiano. É bem verdade que haverá alguns momentos tensos e polêmicos quando se for tratar da remoção de espécies arbóreas que estão vivas, mas que não são indicadas a estarem presentes no logradouro público, e o Nim é uma delas”, disse.
O secretário executivo da Semam reforça que existem, inclusive, recomendações técnico-científicas da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana proibindo que o Nim, conhecida cientificamente como Azadirachta indica, seja plantada em espaços públicos da cidade. Isso porque a árvore tem grande fragilidade, bem como um crescimento que pode danificar estruturas físicas, além de causar a infertilidade da avifauna local. “O Plano vai indicar várias diretrizes do que plantar, como plantar e a espécie que precisa plantar. Temos que ter a árvore correta, no local correto, da forma correta”, destaca.
É o que também salienta a bióloga Roselis Machado. “Temos uma quantidade boa de espécies nativas, mas, infelizmente, nos últimos tempos tivemos umas alterações da paisagem urbana com a introdução de muitas espécies exóticas, inclusive por ação da própria população, por desconhecer a origem daquela espécie, das características, as qualidades, e começam a realizar plantio por conta própria”, lembra.
Com o Plano Diretor, a expectativa é de que Teresina mantenha o índice de cobertura arbórea adequado para todas as cidades, que é de 30%, garantindo melhor qualidade de vida à população da zona urbana. Além disso, a prioridade deve ser investir em árvores nativas e características da região.
“A árvore símbolo de Teresina, o Caneleiro, seria um ótimo exemplo de planta nativa a ser investida. Além de bonita, a planta se adaptou à zona urbana, adquirindo um formato diferenciado, com porte menor, copa espalhada, floração o ano todo, além de sombra e uma beleza rara. Nossa árvore símbolo deve ser muito mais difundida dentro da arborização da cidade”, disse, acrescentando ainda o Oiti, Angicos (brancos e pretos), Ipês e o Flamboiamzinho.