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Greve dos ônibus de Teresina começa amanhã (21); bairros podem ficar desassistidos

Motoristas e cobradores pedem reajuste de 19,98% no piso. Empresários dizem não ter condições de arcar com o sistema e atribuem isso à inadimplência da Prefeitura.

20/03/2022 17:09

Os motoristas e cobradores de ônibus de Teresina iniciam amanhã (21) greve por tempo indeterminado reivindicando o cumprimento do acordo coletivo da categoria por parte das empresas. O movimento começa a partir de meia-noite e a ordem do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Transporte Rodoviário (Sintetro) é que nenhum ônibus deixe as garagens nesta segunda-feira.


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A medida deverá deixar alguns bairros de Teresina totalmente desassistidos de transporte coletivo. Isso porque existem regiões onde só há uma linha de ônibus e apenas um veículo circulando. Com a greve, esse único carro pode ser retirado. É o caso dos moradores do bairro Ininga, na zona Leste de Teresina, que são atendidos pela linha 401 Universidade. 


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Mesmo com o retorno das aulas em modalidade híbrida na UFPI (Universidade Federal do Piauí), o bairro segue sendo atendido por somente dois ônibus e um deles circula apenas até o meio dia. Com a greve, os moradores vivem a indefinição de não saber se poderão contar com transporte para ir e ir vir do trabalho, por exemplo.

“Dizem que não tem demanda, mas tem sim. O único ônibus que tem só anda lotado e agora com os motoristas grevando, ninguém sabe como vai fazer. Eu todo dia tenho que ir para a escola o local onde eu estudo não quer saber se não tem ônibus na cidade. Se eu não estiver na sala de aula, levo falta”, comenta a estudante Larissa Sousa, 19 anos.

Esta greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Teresina é apenas mais um capítulo dos dilemas infindáveis que enfrenta o transporte coletivo na cidade. Tudo começou há dois anos, quando a circulação de pessoas na cidade ficou restrita por conta da disseminação da covid-19 e os coletivos foram retirados de circulação para garantir o cumprimento das normas sanitárias pela população.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

O problema é que quando a vida foi voltando a um novo normal, a frota de ônibus da capital continuou parada. De um lado, as empresas alegam dificuldades financeiras de operacionalizar o serviço devido às perdas ocasionadas pela pandemia. Perdas essas que, segundo os empresários, dificulta o pagamento regular dos motoristas e cobradores. Sem receber o piso salarial e trabalhando mediante pagamento de diárias, os profissionais mais de uma vez cruzaram os braços em protesto por melhores condições de trabalho.

É o que acontece a partir desta segunda-feira (21). Os motoristas e cobradores de ônibus de Teresina exigem o cumprimento da convenção coletiva da categoria, que prevê dentre outros o reajuste salarial de 19,98% que cubra as perdas acumuladas nos últimos anos, o cumprimento do piso com o fim do pagamento em diárias, recontratação de profissionais demitidos durante a crise da pandemia e a volta de benefícios históricos já conquistados pela classe como plano de saúde e tíquete alimentação.

Esse acordo era para ter sido firmado em janeiro deste ano. Até o momento, o Sintetro não conseguiu chegar a nenhum consenso com o Setut (Sindicato das Empresas) e com a Prefeitura de Teresina, representada pela Strans. Vale lembrar que os impasses também giram em torno do poder público e dos empresários


Foto: Assis Fernandes/O Dia

É que o contrato que rege atualmente o modelo de operacionalização do transporte coletivo de Teresina prevê que a Prefeitura arque com os subsídios das meia-passagens e das gratuidades do sistema. Esses repasses, segundo as empresas, está atrasado e a dívida já soma o montante de R$ 73 milhões. Trata-se este do principal empecilho para as negociações entre os empresários e os profissionais, de acordo com o Setut.

Em outubro de 2021, Prefeitura e Setut firmaram um acordo no qual ficou acertado que o ente municipal pagaria a dívida de R$ 21 milhões parcelada: uma entrada de R$ 10,5 milhões dividida em três parcelas - R$ 4,5 milhões em outubro e R$ 3 milhões em novembro e dezembro. A partir de janeiro de 2022, as parcelas ficariam em R$ 1,2 milhões mensais até finalizar o valor da dívida.

O Setut alega que esses montantes não foram pagos e que a dívida, que era de R$ 21 milhões, triplicou para R$ 73 milhões de lá para cá. Por outro lado, a Prefeitura diz que as empresas estão descumprindo o contrato de operação do serviço e não disponibilizam a quantidade de ônibus determinada na ordem de serviço emitida em fevereiro passado. O Setut rebateu e afirmou que não há demanda suficiente para aumentar os ônibus circulando na capital.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

“Nada mudou de lá para cá”, diz cobrador.

Enquanto Prefeitura e empresários não chegam a um acordo, quem fica no meio do impasse são os motoristas e cobradores e a própria população. O cobrador de ônibus Francisco Sousa afirma que nada mudou na relação com a classe patronal de outubro, quando foi firmado o contrato com a Prefeitura, até agora. “Só os ônibus que ficaram mais lotados e em quantidade insuficiente. Eu lamento porque o prefeito parece que não tem coragem para fazer os empresários cumprirem o contrato e os empresários dizem que não têm como resolver a situação do trabalhador”, diz.

De acordo com o presidente do Sintetro, Antônio Cardoso, se nenhuma nova proposta for apresentada pelo Setut à categoria e um acordo for fechado, a greve continuará por tempo indeterminado com apenas o mínimo de 30% da frota circulando conforme exigido pela Lei de Greve para serviços essenciais.

Para a manhã desta segunda-feira (21), está programada manifestação na porta das garagens.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

O que diz os envolvidos

O Setut já havia informado anteriormente que foi notificado da greve pelos profissionais e que tem participado das negociações junto à Superintendência Regional do Trabalho para buscar soluções para as demandas trabalhistas. A entidade frisou ainda que as empresas seguem o acordo firmado com a Prefeitura em outubro de 2021 e que “falta objetividade dos gestores públicos em apresentar soluções para o transporte”.

A Prefeitura de Teresina não se manifestou sobre o assunto. A Strans informou apenas que está atuando como intermediadora entre as partes para administrar o impasse.

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