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Famílias perdem tudo após galeria transbordar com a chuva na zona Sul de Teresina

Água que invadiu casas subiu tanto até quase alcançar o teto. Moradores reclamam da falta de limpeza da galeria e pedem reestruturação.

11/02/2022 11:46

“A gente demora tanto para conseguir ter as coisas e vem a água e leva tudo embora. Chuva não era para ser ruim, não. Era para ser coisa boa. Mas aqui, ela destruiu tudo e toda vez que começa a chover, a gente fica é com medo”. O relato é de alguém que perdeu o pouco que tinha para uma intempérie. A noite, que tinha tudo para terminar tranquila com a família reunida em casa, terminou com a família reunida tentando salvar o que havia em casa.


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A geladeira de dona Isleane Lima queimou, assim como a televisão. O fogão ficou inutilizável e as únicas roupas que sobraram foram aquelas que estavam no corpo. Moradora do bairro Santa Cruz, nas proximidades com o Santa Fé, ela e a família tem dependido agora de doações e dos programas assistenciais do poder público para ter o básico: onde dormir e o que comer.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Poderia ter sido só mais uma chuva forte como tantas outras. O problema é que havia lixo e uma cerca caída no meio do caminho. E nesse caso, quando a água não conseguiu encontrar por onde correr, foi parar dentro das casas de quem estava próximo. O local: uma galeria a céu aberto entre os bairros Santa Cruz e Santa Fé, 15 famílias ao redor e seis ruas atingidas. O problema é antigo, mas nunca tinha chegado a este nível de gravidade.

“O lixo tapou a boca da galeria e a água ficou parada e foi subindo, e subindo, até entrar nas casas. Lá na minha, ela passou da janela, foi quase no teto. Perdemos tudo: geladeira, fogão, saímos só com a roupa do corpo e queríamos ajuda de quem tiver coração e puder ajudar. Colchão, roupa, alimento, o que for que puderem doar já é muito”, diz dona Isleane.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Ela e sua filha foram incluídas no programa Teresina Solidária e fazem parte das 535 famílias que estão recebendo abrigo em residência familiar. Isleane está morando na casa da irmã e recebendo cesta básica da Prefeitura de Teresina. Mas o apoio não fica somente na base familiar. No momento do desespero, ao ver a casa ser invadida pela água, foram os vizinhos que se ajudaram e impediram de o pior acontecer.

“Na hora que a água da galeria começou a transbordar e que a entrar nas casas, eu saí levando quem podia lá para casa, que não foi atingida. Imagina bem aí 15 pessoas entrando no meio da chuva enquanto a gente tentava salvar o que dava. Eu não sabia se olhava para os dois meninos [filhos] dormindo, se olhava para minha mãe de 70 e poucos anos, ou pro pessoal dentro de casa. Pelo menos ninguém se machucou, porque o material que foi embora a gente recupera. O importante é todo mundo ter se salvado”, relatou Flaviana Carvalho.


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O problema na galeria daquela região não é novo, mas o problema sempre se agrava no período chuvoso, em especial por conta da quantidade de lixo que a água traz e que fica acumulada na boca do esgoto, o que acaba represando a água. Em uma chuva mais forte, o volume da galeria transborda rapidamente. Já são pelo menos 20 anos nessa situação.

“Essa galeria começa no quilômetro 7 e vem terminar no Parque Palmeirais. É um problema que temos, que é antigo e que as autoridades têm conhecimento, mas o problema agora foi gerado pelo acúmulo de lixo. Só afetada pelo transbordo dessa galeria a gente tem aqui seis ruas. Ainda estão com lixo para ser recolhido pela Prefeitura”, explicou a presidente da Associação de Mulheres do Santa Cruz, Carla Denny de Sousa.


Carla Denny é presidente da Associação de Mulheres do Santa Cruz - Foto: Assis Fernandes/O Dia

Situação voltou a se agravar na noite desta quinta-feira (10)

A situação voltou a se agravar na noite desta quinta-feira (10) para os moradores do bairro Santa Cruz. É que a chuva que caiu ontem em Teresina aumentou o nível de água correndo pela galeria e, consequentemente, o acúmulo de lixo na boca da estrutura. Sem ter por onde escoar, a água ameaçou transbordar novamente, o que gerou alerta para quem vive nas proximidades.

É o que relata Flaviana: “Se a chuva tivesse continuado, tinha ficado tudo alagado de novo. Amanheceu o dia tudo entupido mais uma vez e se chover mais hoje, a água que já estava alta, vai subir mais. É uma situação difícil, porque ninguém consegue ter sossego. Chove e a gente já fica com medo do que pode acontecer, piorar o que já está ruim”, explicou a moradora.


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A presidente da Associação de Mulheres do Santa Cruz diz que a maioria do lixo acumulado vem de outros bairros e regiões, porque quem mora ali per perto sabe os prejuízos que podem ter se fizerem isso. A extensão da galeria, ela diz, é um fator que preocupa.

“Temos que cobrar do poder público, mas também temos que ter a responsabilidade de não jogar lixo onde não se deve. Não pode jogar lixo nas galerias, porque só quem sofre é quem mora perto da boca, que enche quando chove mais forte. A gente tem que ter consciência que o que eu faço aqui perto da minha casa pode afetar outras pessoas”, dispara Carla Denny.


Defesa Civil monitora áreas de bueiros

A Defesa Civil de Teresina já esteve visitando a galeria do Santa Cruz no dia de ontem (10) para avaliar a extensão dos danos causados às residências e acionar a SAAD Sul para iniciar a limpeza do bueiro. Áreas como esta estão sendo monitoradas pelo órgão, porque inspiram cuidado justamente pelo risco de transbordamento no período chuvoso. Até a semana passada, eram 56 áreas de risco sendo acompanhadas e Teresina, mas esse número já subiu desde a chuva torrencial que caiu sobre a cidade na sexta-feira (04).

“Estamos atentos e pedindo para que as pessoas que vivem nestas áreas de risco saiam de suas casas e se abriguem em locais seguros e aquelas famílias afetadas estão já incluídas no cadastro da Prefeitura para receber toda a assistência necessária”, explicou o gerente municipal de Defesa Civil, Marcos Rolf.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Já a SAAD Sul informou que está tomando todas as medidas emergenciais para que o que houve na sexta-feira (04) não volte a acontecer. A galeria está sendo limpa e a Gerência de Obras e Serviços está projetando a construção de uma passagem molhada com bueiro que, além de ajudar na vazão correta da água, facilitará a mobilidade dos moradores da região.

A Gerência de Habitação da SAAD Sul também está acompanhando as famílias afetadas e incluindo-as no programa Cidade Solidária.

“Deixamos um alerta para que todos descartem corretamente o seu lixo, pois o descarte irregular é o principal responsável pelos entupimentos de galerias, que por sua vez são as principais responsáveis pelos alagamentos”, diz a nota encaminhada pela SAAD.

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