O Sintetro, sindicato que representa os trabalhadores do sistema de transporte público, anunciou nesta quinta-feira (09) que motoristas e cobradores de ônibus estarão de greve a partir da próxima segunda-feira (13) em Teresina. Deve circular na capital apenas a porcentagem mínima de ônibus para atender os 30% exigidos por lei. Esse é mais um capítulo da crise no transporte público de Teresina, que se arrasta há mais de 2 anos.
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(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
A confirmação da greve foi dada pelo presidente do Sintetro, Antônio Cardoso, durante uma paralisação realizado hoje pela manhã, na Praça da Bandeira, centro de Teresina. Cerca de 20 ônibus ficaram parados por 2h em protesto pela falta de pagamentos dos trabalhadores do sistema, além do sucateamento dos ônibus e redução das linhas, o que precariza o transporte coletivo da capital. Ontem (08) motoristas e cobradores paralisaram as atividades do transporte público nas zonas em que os consórcios não realizaram o pagamento: alguns ônibus das zonas leste, sudeste e norte.
(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
“Essas paralisações são algo que se tornou corriqueiro em Teresina. Mas nós queremos que a população entenda. Como que uma empresa deixa um trabalhador 29 dias sem pagamento? É cruel o que eles fazem com a gente. O descaso é tanto que segunda-feira teremos uma greve geral por não termos um entendimento tanto da STRANS e também por parte do SETUT. Foi decidido em assembleia e hoje vamos emitir os ofícios 72h antes. E vamos dar espaço para conversarmos com eles entre hoje e amanhã”, informou o presidente do Sintetro, Antônio Cardoso.
(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
A medida vem mesmo após o conjunto de medidas apresentado pelo governador Rafael Fonteles (PT) para o transporte público de Teresina, que foi aprovado por unanimidade no plenário da Assembleia Legislativa do Piauí na quarta-feira (8). Com impacto financeiro estimado em R$ 1,3 milhão, o pacote foi encaminhado pelo Palácio de Karnak como uma contrapartida do governo do estado para solucionar os entraves do sistema da capital.
“A questão salarial é só o gargalo”, diz representante da Comissão de Transporte
Precariedade. É assim que Débora Paiva, representante da Comissão de Transporte de Teresina, define a situação do transporte público da capital. Presente na paralisação dos motoristas e cobradores de ônibus que aconteceu na manhã desta quinta-feira (09), ela diz que a questão salarial dos profissionais do setor é apenas um gargalo. O problema, segundo Débora, vai muito além do não pagamento dos trabalhadores.
(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
“Ouvimos os usuários e identificamos que o sistema está tão precário que a própria população apoia. Entendemos, como usuários, que não é só a questão do pagamento dos funcionários. Tem a precariedade do sistema: são ônibus que não funcionam mais, linhas desativadas, o problema do Corujão, que deixou de rodar. Infelizmente o gargalo é o não cumprimento do pagamento dos trabalhadores, mas enquanto usuários entendemos que o problema vai muito além”, elenca Débora.
Ela cobra do poder público municipal a resolução do problema e afirma que, até o momento, o que se observa é uma troca de farpas e impasses sobre de quem de fato é a responsabilidade sobre a atual situação do transporte público de Teresina. “Não dá para ficar passando de um para o outro, dizendo que não é problema meu porque quando cheguei aqui, ele já estava. Não é culpa, é responsabilidade”, dispara a representante da Comissão de Transporte. A entidade é formada por várias federações e associações de bairros.
“Sem transporte a gente fica sem outros serviços básicos”, diz passageiro.
Todos os dias, a espera por um ônibus ultrapassa uma hora, podendo chegar até duas ou três dependendo do horário. A dificuldade de ir e vir dentro de Teresina tem causado problemas para a população, sobretudo aquela que reside nas regiões mais distantes do Centro. Morador do bairro Água Mineral, o senhor Francisco Nonato diz que a espera por um ônibus em seu bairro é longa, mas que a necessidade de acessar outros serviços o faz insistir no aguardo.
“Não tem outra forma da gente se locomover aqui dentro. Se você não tem dinheiro para pagar um carro nem tem um meio de transporte próprio, o que resta é esperar por um ônibus. O ruim é porque a gente não sabe se vem e, quando ele vem, sempre é atrasado. Aí a gente se atrasa para os compromissos, perde consulta. É um problema”, desabafa Francisco.
Outra que também tem sofrido constantemente com a incerteza de conseguir um ônibus em Teresina é a senhora Maria das Graças, moradora do bairro Memorare. Ela conta que sempre que precisa sair de casa é um transtorno e que já chegou a desistir de seus compromissos por conta dessa dificuldade.
“Sem transporte, a gente fica sem outros serviços que para gente são básicos. Como que vai para um posto de saúde? Para uma consulta? Fazer um exame? Já é uma demora para conseguir um atendimento e quando consegue, não tem como a gente ir. Do jeito que está é que não dá para continuar”, afirma Maria das Graças.