O caos no transporte coletivo de Teresina tem afetado não somente os motoristas, cobradores e a população em geral, mas diversos setores da economia, uma vez que se trata de um serviço essencial. Sem ônibus nas ruas, o Centro da Capital, por exemplo, está deserto, um prejuízo para lojistas e ambulantes que trabalham nessa região.
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Nas paradas de ônibus, os vendedores amargam prejuízos e lamentam que o poder público não entra em acordo com os empresários e a classe trabalhadora. Valdeck Santos de Almeida (48) trabalha vendendo água há 10 anos, e, sem transporte público, teve que ir a pé de sua residência, localizada no bairro Santa Maria da Codipi, zona Norte de Teresina, até o centro.
Greve de ônibus prejudica ambulantes que trabalham no Centro de Teresina (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Na terça-feira (22), ele precisou sair de casa às 7h02 e chegou ao Centro às 9h10. “Fiquei na parada desde às 6h e nenhum ônibus passou, as vans lotadas, então tive que vir a pé, sem parar, e cheguei todo molhado de suor. É o jeito vir, para conseguir levar um trocado para casa. Segunda eu só vendi nove garrafas de água, hoje, até agora, eu não vendi nada”, conta. Na hora de voltar para casa, ele usa o pouco trocado que ganhou ao longo do dia para pagar a passagem. Um dinheiro que fará falta para sustentar a família e pagar as contas.
Quem também tem sentido a falta dos clientes é a dona Nazaré da Silva Almeida (65), que trabalha no centro há 28 anos. Aposentada, ela montou a barraquinha como fonte de renda extra, porém, tem voltado para casa com os bolsos vazios no final do dia devido à greve.
Nazaré da Silva foi uma das milhares de trabalhadores prejudicadas pela falta de ônibus na cidade (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“Na segunda (21) eu não consegui nem vir trabalhar, porque não tinha ônibus. Hoje eu tive que pegar um transporte alternativo que passa três quarteirões da minha casa, porque no bairro que eu moro, no Grande Dirceu, não está tendo opções de ônibus cadastrados. Para voltar eu ainda não sei como vai ser. Além disso, eu tenho que pagar R$4 de passagem porque esses ônibus não aceitam gratuidade, ou seja, eu estou pagando para trabalhar”, disse.
Funcionários não estão conseguindo chegar ao trabalho, revela Sindilojas
Desde que a greve do transporte público teve início, na segunda-feira (21), o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Teresina (Sindilojas) já tem recebido relatos de trabalhadores que não estão conseguindo chegar às empresas. Tertulino Passos, presidente do Sindilojas, conta que a situação já estava caótica e agora, com a greve, tem sido ainda mais complicada.
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“A situação piorou exatamente quando faltou transporte público, pois ficamos sem a circulação de ônibus indo para o centro da cidade e entre bairros e, a cada dia que passa, a situação se complica mais, porque o cliente não vai sair de sua casa e pegar um Uber para ir comprar, porque eles não sabem como voltam. Hoje mesmo, muitos profissionais que trabalham no Centro chegaram atrasados ou tiveram que pegar outro tipo de transporte. Tem relatos até de pessoas que faltaram”, enfatiza Tertulino Passos.
O presidente do Sindilojas afirma que a situação, que já estava caótica, agora está ainda mais complicada (Foto: Arquivo O Dia)
O presidente do Sindilojas salienta que o transporte coletivo é o único meio de locomoção dos teresinenses e que, uma vez que o sistema para, há um estrangulamento dos serviços, prejudicando vendas e o deslocamento da população.
“Estamos saindo de uma pandemia, começando a ter uma melhora na circulação de pessoas e aí vem essa situação da greve, das pessoas não conseguirem se locomover, e isso atrapalha a atividade comercial da indústria, da prestação de serviço e todos os serviços. É um desejo que gostaríamos que a Prefeitura resolvesse, mas é uma situação que parece que vai se prolongar por muito tempo. Não temos a certeza de como vai ficar, só que o problema está aí e se agravando cada vez mais. Não temos um transporte eficiente, como táxis, Uber ou trem, então quando o transporte público para, ele estrangula toda a circulação de pessoas”, argumenta Tertulino Passos, presidente do Sindilojas.