O prefeito Dr. Pessoa (MDB) comentou nesta manhã (21) a greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Teresina. Ele comparou a situação a um câncer e disse que já pegou “a coisa enraizada”, voltando a responsabilizar a gestão do ex-prefeito Firmino Filho pela situação.
“O câncer está há 34 anos aqui nessas tratativas do governo anterior com o transporte. Pegamos esse câncer já enraizado e estamos com um ano trabalhando para extirpar para quem precisar usar radioterapia, quimioterapia [sic]. Estamos trabalhando de manhã, de tarde e de noite para que a coisa seja resolvida, pelo menos em uma parcial bem grande”, afirmou o prefeito.
A greve dos motoristas e cobradores de ônibus que iniciou hoje (21) em Teresina segue por tempo indeterminado. Nesta manhã, a categoria se reuniu na sede do sindicato, o Sintetro, para protestar por melhorias salariais e nas condições de trabalho. Os profissionais pedem reajuste de 19,98% no piso e a volta de benefícios, como o tíquete alimentação e o plano de saúde.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Os motoristas e cobradores aguardam da Prefeitura de Teresina e do Setut a apresentação de alguma proposta que possa ser discutida em reunião. Até lá, a cidade deve continuar sem ônibus nas ruas.
“Estamos aguardando um chamado deles com alguma proposta para que possamos levar para a categoria para que de imediato pare essa greve. Não é o que queremos, sabemos que a população está padecendo com isso, mas ela tem que entender e ter empatia com a nossa causa”, pede Antônio Cardoso, presidente do Sintetro.
Ele comenta que tem motorista e cobrador de ônibus em Teresina recebendo só R$ 300,00 no final do mês para trabalhar por mais de cinco horas corridas e acumulando de três a quatro férias atrasadas. Questionado sobre os profissionais estarem impedindo os ônibus de sair das garagens, ele disse que se trata de uma inverdade e que a cidade inteira está sem ônibus porque os 30% que prevê a Lei de Greve para serviços essenciais não significam muita coisa perto da frota que circulava em Teresina
“A Strans determina que rodem 250 veículos, mas sabemos que na realidade não roda. Roda aproximadamente 120 e alguns carros são recolhidos no decorrer da manhã. Não estamos fechando garagem, não. A greve está acontecendo por decisão do próprio trabalhador que aderiu ao movimento, porque a situação está insustentável”, afirmou Cardoso.
Antônio Cardoso é presidente do Sintetro - Foto: Assis Fernandes/O Dia
“Quando chega no vice, esbarra”
O presidente do Sintetro afirmou em entrevista nesta manhã (21) que o principal empecilho para as negociações entre a categoria e o poder público está no quesito financeiro e que até há boa vontade do prefeito em resolver a questão, mas que quando ela é levada para o vice-prefeito, Robert Rios, as negociações travam.
“A gente já vinha conversando com a Strans, o Setut e a Prefeitura, e pensávamos que ia resolver a situação. O prefeito até demonstrou interesse juntamente com a Strans, mas quando passa para a parte financeira, que é o vice-prefeito que comanda, ele trava”, disse Antônio Cardoso se referindo a Robert Rios, vice-prefeito e secretário municipal de Finanças de Teresina.
A categoria cobra a assinatura da convenção coletiva que delimita quanto cada profissional deverá receber ao final de cada mês, carga horária e estabelece os benefícios que serão concedidos. Essa convenção deveria ter sido assinada ainda em janeiro, mas segundo o Setut (Sindicato das Empresas), a inadimplência da Prefeitura, que tem um débito de R$ 73 milhões com a entidade, impossibilita que haja negociações.
Para o vice-prefeito Robert Rios, o problema do transporte público é nacional e não se concentra só em Teresina. Ele atribuiu os prejuízos do setor à gratuidade concedida pela União a pessoas com deficiência e a idosos e também à gratuidade concedida pelo Governo do Estado a policiais civis, militares, policiais penais e oficiais de Justiça.
“A União e o Estado deram gratuidade e não repassaram um centavo ao Município. A Prefeitura deu um terço de passagem para os estudantes e vem pagando sua parte. O único que está cumprindo com sua obrigação é a Prefeitura de Teresina”, disparou Robert Rios.
Para o vice-prefeito Robert Rios, o problema está relacionado a benefícios concedidos pela União e o Governo do Estado - Foto: Tarcio Cruz/O DIA
O vice-prefeito afirmou ainda que o papel da Prefeitura neste caso é ajudar nas negociações, mas que não pode “simplesmente tirar o dinheiro do povo que é para saúde, educação e para gerar emprego e renda e colocar todo nas empresas de ônibus”.
TRT e MPT não foram acionados
O Portalodia.com buscou o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), que atuam como órgãos fiscalizadores e mediadores dos conflitos trabalhistas entre as partes envolvidas no impasse do transporte público. Os dois órgãos informaram que ainda não foram oficialmente acionados pela Prefeitura, Strans, Setut ou Sintetro para resolver o impasse e que só poderão se pronunciar caso a questão seja judicializada.