Na manhã desta segunda-feira (30), um grupo de cerca de 20 estudantes esteve em frente ao prédio da Reitoria da Universidade Federal do Piauí (UFPI), para cobrar medidas de combate aos casos de assédio sexual dentro da instituição e para denunciar a falta de segurança no campus. A manifestação ocorre após a morte da estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, 21 anos, ocorrida no último sábado (28).
Estudantes da UFPI fazem manifestação reivindicando segurança no campus (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
A estudante do Curso de História, Maria Gabriele, revelou que as alunas não sentem seguras na universidade, seja dentro da sala de aula ou nos corredores. Por precaução, ela relata que as estudantes evitam andar sozinhas pelo campus ou usar os banheiros da instituição desacompanhadas.
“A gente já não se sentia segura andando pelos corredores da UFPI, já não era um lugar seguro. Desde antes, quando a gente ia para o banheiro era com companhia, a gente evitava andar sempre sozinha, porque sempre teve esses avisos. Dói, é assustador, a gente se sente cada vez mais vulnerável. É um lugar que era pra gente se sentir segura. Afinal, estamos aqui para nos formar e para evoluir, mas não temos espaço para isso porque estamos sempre com medo”, revela.
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Segundo ela, várias denúncias de assédio sexual foram feitas à administração da UFPI, mas, até o momento, nenhuma medida foi tomada para trazer segurança às estudantes. Maria Gabriele relata ainda que é comum que, ao entrarem na universidade, as alunas sejam alertadas sobre o risco de andarem sozinhas pelo campus.
Maria Gabriele ressalta que as estudantes não se sentem seguras dentro da UFPI (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“Todo mundo sabe que aqui mulher não está segura. Seja dentro da sala de aula, com relação ao professor, seja nos corredores, com relação aos alunos. No nosso curso tem uma taxa altíssima de denúncia de assédios e nada é feito, nenhuma medida é tomada. A gente continua se sentindo insegura e não vê chance de mudança, porque simplesmente não escutam e não acatam nossas denúncias”, afirma.
Local onde Janaína foi encontrada (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Janaína Bezerra, estudante do quarto período do curso de Jornalismo, foi morta dentro de uma sala do Curso de Matemática, no prédio do Centro de Ciências da Natureza (CCN). O principal suspeito de ter cometido o crime é um aluno do Mestrado em Matemática da UFPI, Thiago Mayson da Silva Barbosa. De acordo com a Polícia Civil, a estudante foi estuprada e teve o pescoço quebrado.
O estudante do curso de História, Francisco Caio Dutra, explica que a manifestação é uma forma de chamar a atenção para os problemas que a comunidade acadêmica tem sofrido e para fazer com que a morte da estudante “não tenha sido em vão”. Segundo ele, as denúncias sobre a falta de segurança na universidade são constantes e, com a morte de Janaína, se chegou ao “limite”.
Estudante Francisco Caio cobra resolução dos problemas de segurança (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“Quando a Janaína morre, morre também o coletivo, morre a representação estudantil. A gente precisa lutar pela representação da Janaína, para que a morte dela não tenha sido em vão e dizer dos problemas que estamos sofrendo ultimamente. A UFPI tem culpa porque nós estamos há muito tempo reclamando da falta de segurança na universidade e, agora, queremos reivindicar uma coisa que reivindicamos há muito tempo, mas que chegou ao limite, que é o assassinato e estupro em um ambiente universitário e coletivo”, alerta.
A reportagem do O DIA procurou a Universidade Federal do Piauí e solicitou um posicionamento da instituição sobre as denúncias de casos de assédio sexual dentro da universidade, mas até o momento não obteve resposta. Em relação às reivindicações sobre a falta de segurança no campus, o Diretor Administrativo da Pró-Reitora, Alberto Dias, reforça que “mesmo diante de um quadro orçamentário delicado, a UFPI tem buscado meios e alternativas para manter o quadro de funcionário vigilantes ideal para o funcionamento da universidade". De acordo com ele, o campus conta com quase 200 vigilantes que atuam com o objetivo de garantir a segurança no local.