A greve dos motoristas e cobradores do sistema de transporte coletivo de Teresina entra, nesta
quinta-feira (24), no seu quarto dia. Mesmo com a determinação do Tribunal Regional do Trabalho de que 80% da frota de ônibus de Teresina circule durante
a paralisação nos horários de pico, as categorias alegam que, sem o pagamento integral
dos salários, os trabalhadores não tem dinheiro sequer para ir trabalhar e
manter a frota mínima nas ruas.
O O Dia teve acesso aos contracheques de dois trabalhadores que aderiram ao movimento grevista. Segundo os documentos, os salários recebidos pelos dois motoristas pelos dias trabalhados durante os meses de dezembro do ano passado e fevereiro deste ano são de R$ 113 e R$ 302, respectivamente. O presidente do Sintetro, Antônio Cardoso, afirma que, com esses valores, os trabalhadores sequer têm condições de pagar o transporte para ir trabalhar. O salário contratual para a função de motorista é de R$ 1.941,25.
Foto: O Dia
“A lei tem que ser cumprida, porém alguns trabalhadores não têm como se locomover porque não têm dinheiro. Fica difícil para o trabalhador ir trabalhar nessas condições que se tem hoje. A empresa não paga o que é de direito na carteira. O trabalhador não tem condição de ir trabalhar, então resolveu realmente cruzar os braços, mesmo com a liminar da desembargadora”, enfatiza o presidente do Sintetro.
De acordo com o Sintetro, cerca de 50% dos trabalhadores foram demitidos desde o início da pandemia. Ao todo, o sistema possuía em torno de 1.600 funcionários, entre motoristas, cobradores e funcionários de garagem. Destes, 850 foram demitidos desde 2020. O presidente do Sintetro destaca ainda que, dos funcionários que foram mantidos, alguns estão recebendo pagamento por meio de diárias, sem férias, tíquete alimentação ou plano de saúde.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
“Tem trabalhador que está há um ano trabalhando sem ter nenhum vínculo com a empresa. Eu tenho 25 anos de empresa, mas a empresa que eu trabalho paga o salário de 2019, e isso independe se a pessoa está escalada para trabalhar ou não. Porém, tem outras empresas em que o funcionário trabalha, mas não recebe, e ainda não tem a certeza dos dias que vai trabalhar”, denuncia.
Negociação
Ontem, representantes do Sintetro e do Setut participaram de uma rodada de negociação intermediada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT). No entanto, não houve avanços no diálogo entre trabalhadores e empresários. Segundo o Sintetro, as empresas que compõe o sistema de transporte coletivo não apresentaram uma proposta para as reivindicações das categorias. Com isso, o Sintetro decidiu continuar o movimento grevista.
“É preciso que o poder público realmente participe dessa negociação e que o prefeito Robert Rios participe, porque o prefeito da cidade é ele. Ele é prefeito, é o vice e é o secretário de Finanças. O povo está sem ônibus, e nós estamos sem ônibus e sem salário”, finalizou Antônio Cardoso.
O que diz o Setut
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (SETUT) informou que tem participado de mesas de negociações e propostas junto à Superintendência Regional do Trabalho no Piauí, buscando solucionar as demandas trabalhistas de motoristas e cobradores de ônibus. O Setut garantiu que tem assegurado o piso salarial de $1941,00, e, que para não haja mais demissões de colaboradores, tem operado com pagamentos legais por dias trabalhados e com a opção de jornadas compartilhadas nas empresas, a fim de que não ocorram mais demissões.
“Considerando que a quantidade de passageiros transportados ainda se encontra num patamar inferior ao que era antes da pandemia, e sem subsídio municipal de gratuidades, não há condições financeiras de se discutir novos pontos, pois o sistema ainda se encontra muito distante do que seja necessário para a sua manutenção”, informou.
Confira a nota na íntegra:
ESCLARECIMENTO DO SETUT
O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (SETUT) informa que tem participado de mesas de negociações e propostas junto à Superintendência Regional do Trabalho no Piauí, buscando solucionar as demandas trabalhistas de motoristas e cobradores de ônibus. Nesse sentido, tem assegurado o piso salarial de $1941,00, e, que para não haja mais demissões de colaboradores, tem operado com pagamentos legais por dias trabalhados e com a opção de jornadas compartilhadas nas empresas, a fim de que não ocorram mais demissões.
Considerando que a quantidade de passageiros transportados ainda se encontra num patamar inferior ao que era antes da pandemia, e sem subsídio municipal de gratuidades, não há condições financeiras de se discutir novos pontos, pois o sistema ainda se encontra muito distante do que seja necessário para a sua manutenção.
Os empresários seguem à disposição e abertos para o diálogo com os trabalhadores, afim de solucionar as dificuldades do setor. Destacando que o objetivo principal de ambos os lados, deve ser o atendimento das demandas dos passageiros.