O Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI) realizou a interdição ética do Hospital Geral do Buenos Aires, na zona Norte de Teresina nesta quinta-feira (1º). A falta de estrutura e de profissionais suficientes para atender a demanda na Unidade de Saúde é a principal causa para a medida ter sido tomada pelo CRM-PI. O Conselho denunciou que uma criança morreu e que a causa teria sido a falta de um neonatologista no plantão do Hospital.
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“Não tinha neonatologista no plantão. Ligaram para uma profissional dessa área, que deu por telefone todas as indicações do que fazer. Essa criança sobreviveu. A outra faleceu e ao que parece, seria por falta do neonatologista no plantão. A escala está em aberto e não tinha ninguém no dia”, disse a vice-presidente do CRM-PI, Mírian Palha Dias Parente.
(Foto: Nathalia Amaral / O DIA)
O caso da morte do bebê foi conhecido apenas na noite desta quarta-feira (30) em uma fiscalização do Conselho, a 7ª realizada no Hospital. Um segundo bebê sobreviveu após ser atendido “por telefone” por uma neonatologista. “Tivemos esse caso da criança que foram atendidas por telefone. Uma neonatologista informando uma atendente de enfermagem sobre como proceder. Além disso, há falta de insumos, medicamentos. E isso vem se protelando e não temos resposta, resultando nessa interdição, que é por tempo indeterminado. E o culpado são os gestores”, disse o presidente do CRM-PI, Dagoberto Barros da Silveira.
Presidente do CRM-PI interdita o Hospital Geral do Buenos Aires (Foto: Nathalia Amaral / O DIA)
Em nota, a FMS informou que o recém nascido que veio a óbito na Maternidade do Buenos Aires não foi vítima de negligência por parte da equipe de saúde. "Se tratava de uma gestação de risco pela prematuridade extrema (24 semanas), e que a mãe não passou por pré natal. Mesmo a maternidade não sendo para tal caso - que devem ser atendidos na Evangelina Rosa - o bebê foi prontamente atendido pela equipe médica e de enfermagem, e não sobreviveu devido à prematuridade, caso que teria o mesmo desdobramento independente do local em que fosse atendido".
O Ministério Público do Piauí
(MP-PI) acompanhou uma reunião realizada hoje entre CRM-PI e FMS. “Há dois anos
assistimos as dificuldades para os profissionais de saúde trabalharem. Essa notícia
do falecimento de um bebê, com atendimento em telemedicina é insustentável. Uma
maternidade tem que ter na sua escala, diariamente, um neonatologista para
atender pessoalmente os bebês. Não se resolve saúde pública dessa forma. E
estamos vivendo hoje em Teresina, o bloqueio de leitos hospitalares da rede
municipal. Está faltando soro fisiológico”, disse o promotor de Justiça do MPPI,
Eny Pontes.
O seu João Bacelar, aposentado, morador do bairro Mafrense, foi ao hospital sentindo dores e se deparou com a interdição do Hospital. "Eu vim porque estou com uma dor na perna, a moça me falou que não estão atendendo, mas eu tenho esperança que vão retomar o atendimento. Pior que eles não dão um prazo, mas eu prefiro esperar".
Problemas encontrados no Hospital
O CRM-PI informa que a interdição ética foi a medida final tomada depois de seis fiscalizações realizadas durante o ano de 2022 com comunicação aos gestores do hospital e da FMS sobre as várias irregularidades flagradas nas fiscalizações.
Na última fiscalização realizada nesta quarta-feira, foram identificados os mesmo problemas, como: ausência frequente de soro fisiológico levando a transferências de pacientes, falta de administração e medicações que dependem da solução, tratamento inadequado de pacientes (necessidade de volume para tratamento eficaz sem realização por falta da solução), falta de tubo orotraqueais em estoque tamanho 7.5 e 8.0 (os mais usados em adultos), ausência de algumas medicações analgésicas e antibióticos, escala de neonatologia incompleta comprometendo a segurança dos recém-nascidos da maternidade, aparelhos de fototerapia antigos e com baixa eficiência, falta de luvas de procedimento em tamanho pequeno e médio, entre outros fatos enumerados no relatório técnico do CRM-PI.
Documentos mostram problemas estruturais no Hospital (Foto: Divulgação / CRM-PI)
A interdição também visa resguardar os médicos, de forma que não trabalhem sem as condições mínimas necessárias para salvar vidas.
O que diz a FMS
O presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS) esteve no Hospital e comentou sobre as demandas solicitadas pelo CRM-PI. “Primeiro item foi a ausência do Diretor Geral, o prefeito já nos assegurou tomar providências sobre o assunto. Os outros itens como insumos e escalas, nós terminamos de fechar as escalas e temos servidores cedidos ao Estado, na área de neonatologia. Nós deveremos pedir a volta desses servidores".
"Diante dos fatos de interdição ética do Hospital do Buenos Aires, estamos tomando algumas providências imediatas: teremos reforços nas equipes que atenderão no Hospital Ozéas Sampaio (Hospital do Matadouro), Hospital da Primavera, e Hospital Mariano Castelo Branco, na Santa Maria. São os hospitais da Zona Norte onde esse fluxo de pacientes deverá ser direcionado. As maternidades outras receberão esses pacientes que viriam para o Buenos Aires. Estamos providenciando de forma mais célere possível a resolução das pendências apontadas pelo CRM, em breve estaremos retomando as atividades normais do Hospital do Buenos Aires", complementou Dr. Gilberto Albuquerque.
Confira o momento da interdição: